Abstração da rede

DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE | 14-11-2024
Abstração da rede – O que necessitamos realmente
Abstração da rede – O que necessitamos realmente
Descubra como dados ferroviários complexos e dispersos podem ser transformados em informação estruturada. Este artigo explora como uma ferramenta simplifica o planeamento de redes ferroviárias, oferecendo uma solução visual e intuitiva para uma gestão de redes eficiente e precisa.
Abstração da rede – O que necessitamos realmente

 

João Paulo Varandas, Graphical User Interface Team Leader @SISCOG  |  12 min leitura

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PRIMEIRO… EXISTIA O PAPEL

Quando a SISCOG assinou os seus primeiros contratos com empresas ferroviárias e começou a desenvolver os seus produtos de planeamento e gestão de recursos na década de 1980, a informação operacional disponível não era muito sistemática nem organizada. De facto, do ponto de vista do cliente, estes projetos eram frequentemente o incentivo e o meio para começar a organizar os seus dados. Nessa altura, muitas empresas investiram significativamente na informatização e digitalização das suas operações. Esta transformação exigiu a organização, sistematização e consequente informatização de grandes volumes de informação dispersa, a maioria existente anteriormente somente em papel.

Em relação à informação sobre a rede ferroviária operacional, naquela época a SISCOG enfrentou essencialmente dois desafios. Em primeiro lugar, era importante definir que informação era necessária e suficiente para suportar o processo de planeamento dos turnos da tripulação (a tripulação foi o primeiro recurso operacional que abordámos). Em segundo lugar, a informação disponível sobre as características e a configuração da rede ferroviária operacional consistia em mapas e outros documentos em papel. É relevante notar que o uso comercial de recetores de GPS foi desenvolvido principalmente no final da década de 1990 e início do século XXI. Assim, foi apenas nessa altura, e com o desenvolvimento e uso de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) sofisticados, que as empresas de transporte começaram a sistematizar informação detalhada sobre as suas redes operacionais.

 

O TRABALHO DE BASTIDORES

No início do desenvolvimento de cada sistema de planeamento de recursos para a realidade de uma empresa de transportes, é necessário reunir e definir um conjunto de informações de base, como a rede, tipos de veículos, diferentes classificações, informações complementares, entre outras. Esta é uma tarefa considerável e exige um esforço significativo.

O conjunto de dados de base é essencial porque irá apoiar o desenvolvimento e teste do protótipo e/ou do sistema final. Entre os vários componentes, a obtenção e organização de informação sobre a rede ferroviária operacional é geralmente um dos principais desafios iniciais e pode ser tanto demorada como sujeita a erros.

Cada empresa tem as suas próprias formas de trabalhar (muitas vezes com um legado de mais de cem anos), de organizar e de representar a informação. Existe pouca normalização a nível global, embora na Europa haja uma forte influência de alguns países em termos de métodos de trabalho e nomenclatura. A União Europeia também tem vindo a influenciar fortemente a necessidade de adotar mais standards. No entanto, os legados históricos não são fáceis de mudar.

A SISCOG tem desenvolvido produtos de software para o planeamento de recursos que vão além da gestão de pessoal. Temos um produto para a definição de horários, outro para o planeamento da utilização de veículos e outro ainda para o planeamento dos movimentos dos veículos dentro das áreas das estações e para a gestão do estacionamento no parque de manobras.

Estes produtos requerem diferentes níveis de detalhe da rede operacional; informação complementar específica para cada tipo de planeamento; e integração da rede operacional entre estações (rede global) com a rede operacional dentro de cada estação (rede local).

Para cada novo cliente, e sua realidade específica, a SISCOG realiza uma análise minuciosa da informação necessária para apoiar os diversos processos de planeamento dos nossos quatro produtos, assegurando assim que esta é adequada e completa. Ao analisar a informação armazenada por estas empresas nos seus sistemas de GIS (que, entretanto, adotaram e utilizam), podemos já não enfrentar documentos em papel, mas deparamo-nos com uma enorme quantidade de informação complexa.

 

“O conjunto de dados de base é essencial porque irá apoiar o desenvolvimento e teste do protótipo e/ou do sistema final.”

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A complexidade de uma rede ferroviária é enorme. Por exemplo:

  • os sistemas de sinalização têm vários componentes (semáforos, balizas, transponders, sistemas de passagem de nível e outros dispositivos de controlo);
  • áreas com uma rede de vias com muitos cruzamentos;
  • a geometria das vias influencia significativamente a velocidade dos comboios;
  • as estações podem ser paragens simples ou terminais complexos com múltiplos serviços e instalações;
  • as agulhas podem ter várias entradas e saídas;
  • alguns semáforos são mais críticos do que outros;
  • a localização das áreas de descanso para funcionários afeta os tempos de transferência entre circulações;
  • as vias podem ter bitolas diferentes e estar eletrificadas ou não;
  • entre outros aspetos.

 

O QUE PRECISAMOS REALMENTE

Os sistemas de planeamento não exigem tanta complexidade.

Os modelos de apoio ao planeamento geralmente abstraem esses aspetos, e a SISCOG desenvolveu modelos internos que suportam eficazmente esses diferentes níveis e tipos de informação.

Assim, a conversão da informação fornecida pelas empresas de transporte para o modelo de rede operacional da SISCOG Suite não é simples e requer sempre intervenção humana.

A necessidade de tornar essa conversão rápida e eficaz levou ao desenvolvimento de uma ferramenta para definir, validar e manter a rede operacional – o Network Editor (Editor de Rede).

 

DEFINIÇÃO DA REDE

Face a estes cenários e, sobretudo, a necessidade de desenvolver protótipos para (potenciais) novos clientes, tornou-se necessário rever completamente a maneira como a rede operacional é definida, verificada e mantida num sistema de planeamento de recursos.

Para enfrentar este desafio, foram definidos vários requisitos de funcionalidade e visualização, que incluem:

  • Funcionalidade gráfica para edição e visualização da rede.
  • Suporte para perspetivas globais e locais, incluindo mapas baseados em GIS e diagramas de estações.
  • Capacidades de visualização da rede, como exibição da rede, definição de rotas, visualização de movimentos de veículos e apresentação de estatísticas.

 

Figure 1: Example of the editing screen for a global network in a diagrammatic representation.

Figura 1: Exemplo do ecrã de edição de uma rede global numa representação diagramática.

 

Figure 2: Example of the editing screen for a station's local network diagram.

Figura 2: Exemplo do ecrã de edição do diagrama de rede local de uma estação.

 

Foi implementada uma nova ferramenta utilizando tecnologia web. Escolhemos uma biblioteca JavaScript conhecida e comprovada para exibir informações e desenhar sobre um mapa-base fornecido, por exemplo, por sistemas ArcGIS, Google Maps ou OpenStreetMap. Esta biblioteca também permite projetar a configuração diagramática sobre um quadro em branco, adequado para desenhar redes locais geograficamente dentro de uma estação ferroviária.

Foi realizada uma revisão abrangente do design para melhorar a experiência do utilizador, a simbologia, a codificação por cores e outros elementos gráficos. A funcionalidade de suporte existente e os modelos internos foram adaptados para integrar totalmente a nova interface gráfica.

 

O Network Editor - uma ferramenta para definir, validar e manter a rede operacional.”

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O resultado é o Network Editor, uma ferramenta incorporada na SISCOG Suite. Serve não apenas como uma ferramenta de edição de redes, mas também substitui a interface gráfica anterior para visualização da rede e definição de rotas e sub-redes. Com um design apelativo e uma interação completamente revista, esta ferramenta recebeu feedback positivo dos utilizadores, melhorando a sua experiência. Além disso, demonstrou ser um recurso indispensável para o desenvolvimento de protótipos internos.

 

PRINCIPAIS BENEFÍCIOS DO NETWORK EDITOR

Este Network Editor é uma excelente ferramenta para definir e gerir uma rede ferroviária operacional devido a várias funcionalidades principais:

  1. Representação Visual: Fornece uma interface visual onde os utilizadores podem ver todo o esquema da rede ferroviária. Esta representação visual ajuda os utilizadores a compreender facilmente a estrutura e as ligações dentro da rede, tornando o desenho da rede ferroviária mais simples.
  2. Design Intuitivo: Oferece funcionalidade de arrastar e largar, permitindo aos utilizadores posicionar e conectar diferentes componentes do sistema ferroviário com facilidade, como vias, sinais, agulhas e estações.
  3. Feedback: À medida que os utilizadores fazem alterações, valida a consistência da rede, fornecendo feedback. Isto permite que os utilizadores vejam imediatamente o impacto das alterações na rede, facilitando ajustes mais rápidos e precisos.
  4. Integração: Possibilita a combinação de vários componentes para definir uma rede ferroviária operacional completa, facilitando a visualização das interações entre diferentes segmentos da rede.
  5. Gestão de Dados: Facilita a manutenção da rede ferroviária operacional, permitindo a modificação ou expansão dos seus componentes.
  6. Coerência: A representação visual usada para editar a rede é a mesma que é usada para visualizá-la nos restantes produtos de planeamento da SISCOG.

 

Em suma, este Network Editor facilita o processo de criação e gestão de uma rede ferroviária, oferecendo uma plataforma intuitiva, visual e interativa que melhora a eficiência e a precisão no design da rede.